Nós moramos num bairro de Boston chamado Dorchester. Aqui tem gente de todas as raças: irlandeses, haitianos, cabo-verdeanos, latinos de vários lugares, negros e uma respeitável comunidade de vietnamitas. A maioria deles veio da parte mais setentrional do Vietnã, depois que os comunistas do norte ganharam a guerra. Depois de décadas de imigração os sinais do Vietnã estão espalhados pelas ruas de Dorchester. Então para a gente foi bacana visitar o país de origem de muitos dos nossos vizinhos. Sem dúvida, a oportunidade de mergulhar fundo e passar 3 semanas no Vietnã foi uma experiência ainda melhor do que o que o parco contato que temos com a cultura desse país nos Estados Unidos.
Talvez depois das duas Grandes Guerras, a Guerra do Vietnã tenha sido o conflito armado mais emblemático do Século XX. A vinda ao país foi uma verdadeira aula de como tudo aconteceu. Na época existiam duas filosfias econômicas polarizando completamente o mundo do pós II Grande Guerra. Qualquer nação, mesmo pequena, era importante no tabuleiro político que os Estados Unidos e a União Soviética jogavam. Infelizmente o preço pago foi muito alto e milhões de pessoas inocentes morreram por causa da fome de poder dos políticos envolvidos. A guerra acabou desde 1975 e o país parece estar muito bem e reconstruído. Um sinal da força de um povo que é conhecido pelos demais países vizinhos como sendo muito trabalhador e determinado.
Nao é novidade que o partido comunista mantém uma mão de ferro sobre como o Vietnã funciona e não é surpresa que isso reverbera mal com várias das pessoas que conversamos. Em alguns lugares não tínhamos acesso a Facebook, em outros nada de blogs e os comentários sobre corrupção não eram muito diferente do que o que vemos no Brasil. Apesar disso, a visão de uma ditadura comunista sem as liberdades básicas individuais não foi o que vimos. As pessoas falavam abertamente sobre o governo e geralmente bem mal. Ficamos sim, impressionados com o empreendedorismo dos vietnamitas. Eles estão sempre prontos para fazer qualquer negócio. Ao contrário do que acontece em países capitalistas onde vemos grandes cadeias de lojas, supermercados e restaurantes, no Vietnã vimos muitos negócios familiares e pessoas tendo seu próprio estabelecimento. Ficamos nos perguntando o que é melhor para a população, trabalhar para si próprio ou para uma empresa? Acho que tem pontos positivos e negativos nas duas opções, mas nos pareceu que os vietnamitas estavam muito bem com uma menor quantidade de grandes empresas monopolizando suas vidas.
Com uma população de mais de 90 milhões de pessoas, eles são bem homogêneos etnicamente, apesar do país ter sido invadido por vários países ao longo dos últimos séculos. Hoje junto com a Tailândia, é um dos países mais poderosos da região e forma um novo grupo de países emergentes que devem crescer muito mais do que as nações que fazem parte do famoso bloco chamado BRIC (Brasil, , Russia, India e China). A economia deve continuar crescendo e apesar de vermos pobreza, nao foi nada parecido com o que vimos no Laos e no Camboja.
Quando estávamos no Laos e Tailândia nos avisaram para tomar cuidado, pois os vietnamitas estavam sempre tentando enrolar turistas. Na realidade não nos pareceu diferente da grande maioria dos lugares onde visitamos. Claro que tudo é negociável e você deve sempre tentar baixar o preço dos passeios ou de qualquer coisa que se vá comprar. Felizmente quanto mais longe estávamos dos grandes centros turísticos, mais amigável era o povo. Isso era verdade em quase todo lugar que estivemos. No futuro, estaremos sempre atentos para sair um pouco da tradicional trilha turística, procurar programas diferentres e conhecer locais que os nativos gostam e se divertem.
Assim que nós chegamos no Vietnã, algo nos chamou a atenção imediatamente. No meio da rua, as meninas e mulheres estavam sempre usando calças, camisas de manga longa, chapéus, máscaras e até luvas. Isso num calor de 35 graus e com uma umidade muito alta. Até na praia elas ficam na sombra ou vestidas dos pés a cabeça. Seria uma razão religiosa? Não! Elas só não querem ficar morenas. É interessante entrar numa farmácia ou numa bodega e ver vários produtos para enbranquecer a pele, além das propagandas na TV. Enquanto isso, do outro lado do mundo estamos todos tentando ter câncer de pele, produzindo vitamina D com o objetivo final que é ter um bronze. Parece que nunca estamos felizes com o que temos…
Budismo é também a principal religião por aqui. Notamos que não é tão pronunciado como nos outros países, principalmente Tailândia e Laos. As lojas e hotéis têm geralmente pequenos altares para as oferendas e velas, mas não vemos tantos monges andando no meio da rua. Acho que foi o país com menos templos budistas e com uma maior quantidade de outros templos que poderiam ser taoístas, confucionistas ou de uma religião local chamada Cao-Dao. 10% da população é católica e claro que a grande maioria se concentra na região mais “capitalista”, no sul do país.
Com relação à beleza natural, achamos que o Vietnã é o país mais bonito que visitamos na península da Indochina. Isso porque além das montanhas, das grutas, das cachoeiras e dos campos de arroz (que também encontramos no Laos), o Vietnã tem uma região costeira que é paradisíaca e inesquecível, principalmente a Baía de Halong. O transporte tem seus problemas. As estradas são muito boas, mas nós ficamos sabendo de muitos acidentes rodoviários. Os ônibus não são tão confortáveis. Os trens são melhores, mas não da qualidade que vemos nos Estados Unidos e Europa. Uma excelente saída, são passagens de aviões, que podem sair bem baratas se forem compradas com antecedência.
A comida por aqui foi uma grande surpresa. Estávamos acostumados a comer em Boston as famosas sopas pho e os rolinhos primaveras frescos. Mas tem muito mais para se provar. E a melhor parte foi ter a oportunidade de experimentar a culinária de diferentes regiões na medida que percorríamos o país. Além dos pratos estranhos como rã, churrasco de pé de galinha, churrasco de intestino de porco, ovo de pato com embrião, sopa de pombo e até cachorro – que nós não comemos. Eles tinham também as deliciosas e diferentes sopas com macarrão fresco feito no dia, complexos cozidos de carne, churrasco de porco e frigideiras de legumes com enguia. HUmmmmmmmmm!!!! A gente não vê a hora de voltar para casa e provar tudo que os cardápios oferecem nos restaurantes do nosso bairro.
A moeda do país se chama Dong. US$ 1 vale 20.000 dongs. É estranho ir num caixa automático e sair milionário com vários milhões de dongs no bolso. Tomar uma cervejinha de 600 mL num bar custa cerca de 1 dólar. Com 3 dólares pode-se comer bem tanto no almoço, como no jantar em restaurantes bem simples . E um quarto num hotel para mochileiro vai por cerca de 15 a 20 dólares.
O Vietnã foi o último país grande que visitamos. E como ficamos satisfeitos de poder finalizar por aqui. Por que? Porque o país é uma pintura fiel do que é a Ásia de verdade. Andar nas ruas das mais diversas cidades e ver os nativos com seus icônicos e cônicos chapéus, segurando as enormes “balanças”, levando os produtos para vender aos transeuntes foi uma dessas visões que ficarão estampadas na nossa memória. Agora, só com as lembranças, esperamos reviver esses momentos no nosso bairro em Boston. Como somos sortudos.
Tá terminando…
Marcelo, ainda tem os últimos dias na Tailândia, Hong Kong e sua despedida do último mês visitando seus amigos que moram nos Estados Unidos. Vamos esticar este blog!
Seus amigos agradecem!